Cesário Verde, “O sentimento dum ocidental”

11º F | Síntese da leitura analítica, realizada em pequenos grupos

 

O poema “O sentimento de um Ocidental”, de Cesário Verde, é caracterizado como um exemplo de “épico moderno”, no qual o poeta noz dá a visão da cidade contemporânea, moderna, nas suas desigualdades sociais. O poeta deambula pela cidade, caminhando e observando o ambiente e as personagens, deixando as marcas impressionistas do que vê, ouve, cheira, sente. Progressivamente vai avançando pela cidade, caminhando do cais para o interior, acompanhando o decorrer da noite, do anoitecer à madrugada. O poema é constituído por quatro partes: I - Ave-marias, II - Noite fechada, III - Ao gás, IV - Horas mortas.

(MJesus)

I – Ave-marias

O poema começa quando o sujeito poético se encontra “nas nossas ruas, ao anoitecer”, percebendo com o uso do recurso expressivo gradação, que na escuridão “Há tal soturnidade, há tal melancolia” despertando “um desejo absurdo de sofrer” (metáfora).

Na segunda estrofe, o poeta denuncia a realidade da cidade de Lisboa comparando-a com Londres, no que toca ao aspeto e à sua “cor monótona e londrina” devido à ausência de luz, depreciando o retrocesso que o aspeto da cidade lisboeta teve ao longo dos anos.

De seguida, Cesário Verde desvaloriza Portugal, referindo que apenas é feliz quem sai do país. Este recorre à enumeração para designar “o mundo” onde, segundo ele, ocorrem exposições: “Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo”.

Na quarta estância, o poeta compara as edificações “a gaiolas, com viveiros”, e compara ainda os mestres carpinteiros a morcegos, devido a saírem tarde do trabalho quando já não há luz do sol.

Na quinta quadra, observamos o sujeito poético a continuar o seu passeio, enquanto atenta nos trabalhadores/operários que saem tarde do trabalho, utilizando uma dupla adjetivação para caracterizar os operários, e por fim enumera os sítios por onde passa.

Podemos concluir que nas primeiras estrofes deste poema, o autor começa a sua jornada pela cidade lisboeta ao anoitecer, utilizando recursos expressivos para a caracterizar de maneira depreciativa e realista, comparando ao mesmo tempo Portugal com outros países.

Daniela, Catarina, Inês

 

De seguida, o sujeito poético segue paraa descrever a cidade à maneira que vai passeando pela mesma, no seu pensamento invoca os sujeitos dos descobrimentos entre eles Camões. O fim da tarde inspira e incomoda, descreve quem vê na cidade distinguindo aqueles que não trabalham ou que não exercem a força, representando a riqueza, como por exemplo dentista, arlequim e lojistas, daqueles que trabalham à base da força, nomeadamente os pobres, como por exemplo as obreiras e as varinas, destacando-as nas três últimas estrofes, realçando a sua forma física desde as ancas opulentas até aos troncos varonis; acaba por falar também dos seus filhos pescadores que acabam por se perderem no mar. Mostrando-se intrigado com as condições de vida das pessoas trabalhadoras,“ Descalças! Nas descargas de carvão, / Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;”.

      Nesta parte, podemos identificar os seguintes recursos expressivos: enumeração, em “...dois dentistas ;/ Um trôpego arlequim braceja numas andas; / Os querubins do lar flutuam nas varandas;...), a comparação, em “ Seus troncos varonis recordam-me pilastras ; “ e por a adjetivação conforme vai descrevendo as vendedoras de peixe. Na quarta estrofe o poeta utiliza uma sensação de movimento quando apresenta as varinas: “E um cardume negro, hérculeas, galhofeiras; / Correndo com firmeza, assomam as varinas.”

      A partir da estrofe 6 até à 11 tudo se passa no final da tarde e o sujeito poético no seu pensamento refere cinco profissões, dentistas, arlequins, lojistas, obreiras e varinas. Recorrendo a vários recursos expressivos e à oposição da riqueza e da pobreza em Lisboa, chegamos à conclusão que o poeta refere como inspirador as pessoas trabalhadoras e o seu esforço diário, sente-se incomodado pelo facto de não receberem o devido mérito.

Emilly, João, Mara

II – Noite fechada

Na “Noite Fechada”, entre as estrofes 1 e 5, quando a noite cai, o autor vai observando os diversos espaços e o que vai acontecendo.

  Na estrofe 1, o autor passa por um presídio e com a observação das personagens, que são as velhinhas e as crianças, é invadido por um sentimento de tristeza e lamenta aquela situação, o transtorno por nunca ver pessoas poderosas e de bens naquela situação; o sujeito poético critica as mulheres poderosas da aristocracia, ou seja, as mulheres de “dom”, que através dos seus altos cargos e privilégios conseguem sempre livrar-se da prisão.

  Na estrofe 2, o sujeito poético mostra-nos que o “eu” lírico continua em movimento, caminhando pela rua, continuando sempre a observação, característica do autor, falando das suas sensações e até mesmo dizendo que sofre de um aneurisma por se sentir tão mórbido ao sair de perto das prisões, que é o espaço onde se encontra no momento.

  Na estrofe 3, o autor ao continuar pela rua fora, assiste ao acender das luzes da cidade, nas tascas, cafés, tendas e estancos. Ao cair da noite, vão-se alastrando as luzes dando uma diferente visão da cidade ao autor, usando uma linguagem que nos dá a possibilidade de imaginar o cenário.

  Na estrofe 4, Cesário Verde, tal como também aconteceu na primeira estrofe, a crítica é feita ao clero onde o “eu” lírico demonstra o seu desagrado com esta classe social e com as suas igrejas. De facto, nesta época os clérigos não cumpriam os seus votos de castidade e muitas vezes dormiam com mulheres, tinham negócios, algo que o autor desaprova.

  Na estrofe 5, ao longo da sua caminhada, o sujeito poético chega a parte de Lisboa, onde estava a haver as reconstruções dos prédios devido ao terramoto de 1755, começa então a ganhar sentimentos nostálgicos, e começa a lembrar-se de memórias passadas.

  Relativamente à expressão linguística, Cesário Verde recorre muito ao uso do adjetivo, como por exemplo no verso 14 “nódoa negra e fúnebre”. Para além disto, também recorre à enumeração no verso 10 “E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos”, e a metáfora no verso 14 “Nelas esfumo um ermo inquisidor severo”.

Carolina, Jessica, Mariana

 

A segunda parte da Noite Fechada inicia-se na sexta estrofe, onde o sujeito poético se encontra na Praça de Camões, em Lisboa. Nesta estrofe refere-se a Camões, homenageando-o e destacando a sua importância. Camões representa os problemas do presente com soluções do passado, tal como diz no verso 24, “Um épico d’outrora ascende, num pilar!”.

Na sétima estrofe, o sujeito poético passa por pessoas enfezadas e revela-se sensível ao sofrimento destas pessoas, que sofrem de cólera e febre, como diz nos versos 25 e 26 “E eu sonho o Cólera, imagino a Febre, Nesta acumulação de corpos enfezados;”. Na estrofe oito, fala de soldados, que sentem tanto medo que caminham lentamente, “A pé, outras, a passos lentos” (verso 31). Na estrofe nove, o poeta é tomada por sobressaltos perante costureiras e coristas, de vida dupla – que levam a uma profissão humilde de dia e duvidosa de noite. O sujeito poético denuncia também as influências estrangeiras na moeda. Na décima estrofe o sujeito poético considera-se um homem atento, já que a sua luneta (como é referido no poema), o ajuda a captar todos os pormenores, assim possui uma visão detalhada do que o rodeia, mas tem consciência que essa visão é limitada para a sua realidade. A parte da Noite Fechada termina com a entrada do sujeito poético numa cervejaria.

Esta parte apresenta vários recursos expressivos, tais como: a tripla adjetivação (verso 23, “Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras”); a perífrase (verso 24, “Um épico d’outrora ascende, num pilar!”); e, a apóstrofe (verso 33, “Triste cidade!”). O poeta também apresenta o impressionismo, na sétima estrofe, nos três primeiros versos (25, 26 e 27).

Ema, Philippa e Victoria

 

III – Ao gás

Neste excerto podemos observar uma continuação do poema anterior logo no primeiro verso “ E saio”. Começa a ficar mais tarde “ A noite pesa, esmaga” enquanto o autor passeia pelas ruas sombrias. O ar está mais frio, tudo indica que está a ficar cada vez mais tarde.

Ao passear pelas ruas observa lojas que lhe parecem capelas e uma catedral de um comprimento imenso, onde as capelas representam as pequenas lojas pela rua, as burguesinhas que vê nas lojas parecem-lhe freiras na missa, “ que os jejuns matavam de histerismo”. Mas, na realidade só estão nas lojas a fazer compras de tal fé e aplicação, que fazem mesmo parecer freiras. Esta é uma comparação entre a realidade e épico, a ligação entre a segunda e terceira estrofe.

Através de vários aspetos descritos nas estrofes seguintes, podemos concluir que a ação se passa na cidade “ forjador maneja um molho” (...) padaria”, “casas de confecções”. Na quarta estrofe está presente uma hipálage, que é um recurso expressivo bastante importante, “ um cheiro salutar e honesto a pão no forno”. O significado é que o cheiro não pode ser honesto mas sim os trabalhadores que faziam o pão.

Passando e refletindo sobre as passagens que observa, o autor medita um livro que exercebe, ou seja, pensa num livro que nunca virá a escrever, apesar de se sentir inspirado pela cidade e pela noite.

Com estes percursos prossegue o seu caminho pelas ruas, descidas da cidade.

Marina, Tatiana

Neste excerto o sujeito poético está a caminhar numa rua onde depara-se com uma mulher dentro de uma loja. Este compara-a com uma cobra para explicitar a sua elegância e estrutura física, também a descreve como uma pessoa sensual ("Que grande cobra, a lúbrica pessoa" v. 25). Mais tarde, o "eu" repara numa mulher velha, fazendo o contraste com a jovem que tinha encontrado anteriormente. Este também exalta o luxo das lojas que têm tecidos estrangeiros (v. 33). Nesta altura da caminhada já é de madrugada pois os candelabros começam-se a apagar (v. 38).

No fim desta rua este encontra um mendigo que costumava ser seu professor fazendo, indiretamente, o contraste entre o lixo das lojas e a miséria a que pessoas importantes para a sociedade da altura chegam e faz também uma crítica ao consumismo.

Pedro, Alin

IV - Horas Mortas

Em "Horas Mortas" fala-se da deambulação do sujeito poético pelas ruas da sua cidade, a altas horas da madrugada, onde existe violência, insegurança e medo. Quando as ruas estão vazias e há ausência de atividade e que, por isso, o sujeito poético sente-se aprisionado e angustiado e mostra a sua vontade de querer fugir, e que as únicas pessoas que vê são os cães raivosos ("E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes, amareladamente, os cães parecem lobos" E.9), os bêbedos ("Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas, cantam, de braço dado, os tristes bebedores" E.9), os guardas noturnos ("E os guardas, que revistam as escadas, caminham de lanterna e servem de chaveiros" E.10) e as prostitutas (Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros E.10).

Na 7ª estrofe, o sujeito poético mostra angústia e medo e faz referência aos assassinos.

Na 8ª, ele fala dos bêbedos e mostra nojo pela cidade.

Na 9ª, ele faz referência aos cães maltratados e abandonados que vagueiam pela cidade (Parecem lobos) e aos ladrões.

Na 10ª, ele fala dos guardas de lanterna e das imorais (Prostitutas).

Por último, na 11ª, o autor já não fala da sua dor como apenas sua mas como geral, da humanidade.

Ao longo do poema encontramos o desfalecer de toda a esperança, o sujeito poético retorna á realidade e percebe que os seus desejos são impossíveis de se realizar.

Nestas 5 estrofes encontramos vários recursos expressivos como:

"As folhas das navalhas"- Metáfora; "Os gritos, estrangulados"- Personificação; "Os ventres das tabernas"- Personificação/Metáfora; "E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes"- Múltipla adjetivação; "Os cães parecem lobos"- Comparação; "De prédios sepulcrais"-Metáfora; "Com dimensões de montes"- Hipérbole

Com isto chegámos á conclusão que o sujeito poético vai enaltecendo a cidade e que quando a madrugada chega.... tudo muda.

 

Ricardo, Olena